quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Iniciação Total

Enquanto algo é meu,

Não pode triunfar o EU.

Meus são bens de fortuna,

Meus são amores de homem ou mulher,

Meus são filhos, parentes, amigos,

Meu é o prestígio social de que gozo,

Meus são o corpo e o intelecto.


 

Nada disto, porém, sou Eu.

Eu sou o sujeito central,

Meus são os objetos periféricos.

E esses objetos são velhos companheiros meus,

Crudelíssimos tiranos,

Desde o meu nascimento,

Poucos decênios atrás.


 

Esses objetos são velhos companheiros,

Onipotentes ditadores,

Do gênero humano,

Há muitos séculos e milênios.


 

Haverá esperança de que eu possa

Realizar a minha libertação?

Que eu possa viver, aqui na terra,

Sem esses objetos escravizantes?

Sem esses queridos "meus"?

Sem esses idolatrados fetiches?...


 

Não! Ninguém pode desfazer-se desses ídolos

E continuar a viver.

Já compreendi que iniciação

Não é algo que eu possa adicionar

À minha vida horizontal,

Como um belo enfeite,

Como um colar de pérolas.


 

Compreendi que iniciação,

A morte total desta vida,

E algo inédito e inaudito,

Até agora vivida...


 

Iniciação não é continuação

De algo preexistente.

Não!


 

É o fim de tudo que foi e é.

E o início de tudo que deve ser...

Iniciação é algo virgem,

Um novo "fiat lux" creador.

Não é remendo novo em roupa velha,

Não é vinho recente em odres gastos.

Não!


 

Iniciação é morte total

Do "homem velho",

E ressurreição integral

Do "homem novo".

Nem um átomo da bagagem do ego

Passa para além da fronteira.

Porque o ego só conhece o que é "dele",

E ignora o que é "ele".


 

O meu verdadeiro

Eu nada sabe

Desse mundo dos meus,

Desses pequenos e grandes nadas

Que parecem ser algo.

Iniciação é verdade suprema,

Incompatível com a menor das ilusões.


 

Ergue-te, pois, sobre asas levíssimas,

Meu grande Eu divino,

Meu átomo crístico!

E lá das excelsas alturas

Dominarás todos os "meus",

Sem seres por eles dominado...

-Por Humberto Rohden

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